Depois de 20 anos de negociações, na última sexta-feira (28), em Bruxelas, finalmente foi assinado o acordo para a criação de uma área de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia.
As expectativas são as melhores possíveis para o Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, já que, em um período de até dez anos, 90% dos produtos exportados pelos países do Mercosul entrarão no bloco europeu livre de tarifas de importação.
O acordo organiza a maior área de livre comércio do mundo abrangendo 780 milhões de pessoas e 25% do PIB mundial.
As estimativas para o Brasil são estimulantes. Em 15 anos, as exportações para a União Europeia devem aumentar em cerca de 100 bilhões de dólares. O incremento de U$ 125 bilhões no PIB brasileiro e investimentos da ordem de U$ 113 bilhões estão previstos no mesmo período.
Na plena vigência do acordo, os produtos agrícolas brasileiros e os industrializados europeus deixarão de ser tarifados.
Segundo a Ministra Tereza Cristina declarou: “Na área agrícola, teremos muitos produtos, de frutas a carnes, um menu cheio de opções para que os produtores brasileiros acessem esse grande mercado que é a União Europeia.”
O Secretário Especial de Comercio Exterior e Assuntos Internacionais Marcos Troyjo, em entrevista à Rádio Jovem Pan, no dia 28 de junho, fez uma importante declaração, apresentando de modo assertivo as enormes oportunidades criadas a partir do acordo: “O acordo representa uma mudança de modelo. Durante décadas o Brasil privilegiou a insularidade comercial, as antigas políticas de substituição de importações, o protecionismo e, agora, com o acordo, temos a oportunidade de nos vincular competitivamente às chamadas redes globais de valor.”
Ao mesmo tempo que as palavras do secretário Troyjo apontam a oportunidade, nos levam a refletir a respeito das profundas mudanças exigidas com a nossa vinculação às redes globais de valor.
O governo demonstrou intenção em realizar uma ampla e substantiva reforma tributária, no entanto, sabemos que muitas barreiras devem ser superadas até sua aprovação pelo Congresso Nacional.
Também serão necessárias transformações positivas nos sistemas logísticos da cadeia de valor. A gestão do Ministro Tarcísio Gomes de Freitas tem sido efetiva na implementação de uma política nacional de aperfeiçoamento da infraestrutura de transporte. Espera-se muito bons resultados nessa área, reduzindo custos de produção, a partir do aperfeiçoamento da infraestrutura logística.
Um outro ponto a considerar, com a inserção das empresas brasileiras nas redes globais de valor, fixa-se na busca de convergência regulatória.
O estudo “Coerência e convergência regulatória no comércio exterior: o caso do Brasil frente à União Europeia e Estados Unidos, com ênfase na experiência do Reino Unido”, apresentado em 2017 pelas Professoras Doutoras Vera Thorstensen e Michelle Ratton Sanchez Badin, sublinha que o conceito de regulação econômica não se limita exclusivamente à regulação normativa, mas também ao controle e a fiscalização.
Não só as atividades dos governos são reguladas. Todas as ações dos agentes econômicos, no âmbito interno dos países, também o são. Na área do comércio internacional, em particular, há uma sobreposição de regulações.
Nossas organizações precisarão investir nesse alinhamento regulatório para participar competitivamente no novo mercado. A inserção nas redes globais de valor estimulará a desverticalização das cadeias de produção e a adoção de princípios e normas, ainda não implementados, que moldarão novas condutas e poderão gerar exigências de certificação internacional.
Diante de tantas transformações requeridas, fica fácil perceber que a cultura organizacional de nossas empresas irá mudar.
É preciso fazer a gestão da transformação que, já sabemos, ocorrerá para evitar solavancos, turbulências, conflitos, crises e insucesso.
Transformações sempre geram resistências, que na maioria das vezes se sustentam na reconhecida aversão do gestor brasileiro à mudança, mesmo que tudo indique que mudaremos para melhor.
Há alguns anos, gestores resistem a adoção de metodologias e processos de gestão de riscos e de gestão da integridade, do Compliance, considerando que os custos de sua implementação não correspondem aos benefícios decorrentes.
É uma questão de visão que, esperamos, a necessidade de evolução do modelo atual de governança corporativa possa também transformar.
O revolucionário acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia promoverá alterações marcantes na natureza da concorrência empresarial, que será submetida a novas condicionantes do ambiente de economia internacional, onde será necessário gestores motivados à reduzir custos de transação e a diminuir riscos.
Fonte: Brasilagro